Papa Francisco

Papa Francisco – Sínodo da Sinodalidade – Vaticano – 4 a 29 de outubro 2023 – Discurso de abertura

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ABERTURA DA XVI ASSEMBLÉIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS “POR UMA IGREJA SINODAL: COMUNHÃO, PARTICIPAÇÃO E MISSÃO”

 

DISCURSO DO SANTO PADRE FRANCISCO

 

Sala Paulo VI

Quarta-feira, 4 de outubro de 2023

 

Irmãos e irmãs, boa tarde!

Saúdo todos vós, com os quais iniciamos este caminho sinodal.

Gosto de recordar que foi São Paulo VI quem disse que a Igreja no Ocidente tinha perdido a ideia da sinodalidade, e por isso criou o secretariado do Sínodo dos Bispos, que realizou muitos encontros, muitos Sínodos sobre temas diferentes.

Mas a expressão da sinodalidade ainda não está madura. Lembro-me que fui secretário num destes Sínodos, e o Cardeal Secretário – um bom missionário belga, bom, bom – quando me preparava para as votações ele veio assistir:

“O que você está fazendo?” – “O que deve ser votado amanhã” – “O que é? Não, isto não pode ser votado” – “Mas ouçam, é sinodal” – “Não, não, isto não pode ser votado”. Porque ainda não tínhamos o hábito de que todos se expressassem livremente.

E assim, lentamente, ao longo destes quase 60 anos, o caminho foi nesta direção, e hoje podemos chegar a este Sínodo sobre a sinodalidade.

Não é fácil, mas é lindo, é muito lindo. Um Sínodo que todos os bispos do mundo queriam. Na pesquisa feita depois do Sínodo para a Amazônia, entre todos os bispos do mundo, o segundo lugar de preferência foi este: a sinodalidade.

O primeiro foram os padres, o terceiro creio que foi uma questão social. Mas [isso foi] o segundo. Todos os bispos do mundo viram a necessidade de refletir sobre a sinodalidade. Por que? Porque todos entenderam que o fruto estava maduro para algo assim.

E com este espírito começamos a trabalhar hoje. E gosto de dizer que o Sínodo não é um parlamento, é outra coisa; que o Sínodo não é uma reunião de amigos para resolver algumas questões atuais ou dar opiniões, é outra coisa.

Não esqueçamos, irmãos e irmãs, que o protagonista do Sínodo não somos nós: é o Espírito Santo. E se houver o Espírito entre nós para nos guiar, será um belo Sínodo.

Se em nosso meio houver outras formas de avançar pelos interesses humanos, pessoais, ideológicos, não será um Sínodo, será uma reunião mais parlamentar, o que é outra coisa. O Sínodo é um caminho que o Espírito Santo faz.

Foram entregues a vocês algumas folhas de papel com textos patrísticos que nos ajudarão na abertura do Sínodo. Eles foram tirados de São Basílio, que escreveu aquele belo tratado sobre o Espírito Santo. Por que? Porque precisamos entender essa realidade que não é fácil, não é fácil.

Quando, no 50º aniversário da criação do Sínodo, os teólogos me prepararam uma carta que assinei, foi um bom passo em frente. Mas agora devemos encontrar a explicação ao longo desse caminho.

Os protagonistas do Sínodo não somos nós, é o Espírito Santo, e se deixarmos espaço para o Espírito Santo, o Sínodo correrá bem.

Estas folhas sobre São Basílio foram entregues a vocês em diferentes idiomas: inglês, francês, português e espanhol, então você as tem em mãos. Não menciono estes textos, sobre os quais peço que reflitam e meditem.

O Espírito Santo é o protagonista da vida eclesial: o plano de salvação dos homens realiza-se pela graça do Espírito.

Ele é quem assume a liderança. Se não compreendermos isto, seremos como aqueles de que fala os Atos dos Apóstolos:

“Você recebeu o Espírito Santo?” – “O que é o Espírito Santo? Nós nem ouvimos falar disso” (ver 19:1-2). Devemos compreender que Ele é o protagonista da vida da Igreja, Aquele que a leva adiante.

O Espírito Santo desencadeia um dinamismo profundo e variado na comunidade eclesial: a “agitação” de Pentecostes. É curioso o que acontece em Pentecostes: tudo estava bem arranjado, tudo estava claro… Naquela manhã houve uma comoção, todas as línguas foram faladas, todos entenderam…

Mas é uma variedade que não entendemos bem o que significa… E depois disso, a grande obra do Espírito Santo: não unidade, não, harmonia. Ele nos une na harmonia, na harmonia de todas as diferenças. Se não há harmonia, não há Espírito: é Ele quem faz isso.

Depois, o terceiro texto que pode ajudar: o Espírito Santo é o compositor harmonioso da história da salvação. Harmonia – tenhamos cuidado – não significa “síntese”, mas “vínculo de comunhão entre partes díspares”.

Se neste Sínodo chegarmos a uma declaração de que todos são iguais, todos iguais, sem nuances, o Espírito não está aí, ficou fora. Ele cria aquela harmonia que não é síntese, é um vínculo de comunhão entre partes diferentes.

A Igreja, uma só harmonia de vozes, em muitas vozes, realizada pelo Espírito Santo: é assim que devemos conceber a Igreja. Cada comunidade cristã, cada pessoa tem a sua peculiaridade, mas estas particularidades devem ser incluídas na sinfonia da Igreja e a sinfonia certa é criada pelo Espírito: não podemos fazê-lo. Não somos um parlamento, não somos as Nações Unidas, não, é outra coisa.

O Espírito Santo é a origem da harmonia entre as Igrejas. É interessante o que Basílio diz aos irmãos bispos:

“Portanto, assim como valorizamos a sua harmonia e unidade mútua como o nosso bem, também os convidamos a compartilhar nossos sofrimentos causados pelas divisões e a não nos separarmos de vocês porque estamos distantes devido à localização e aos lugares, mas, uma vez que nós estamos unidos em comunhão segundo o Espírito, para nos acolher na harmonia de um só corpo”.

O Espírito Santo nos conduz pela mão e nos consola. A presença do Espírito é assim – permitam-me a palavra – quase materna, como uma mãe nos conduz, nos dá esta consolação. É o Consolador, um dos nomes do Espírito: o Consolador.

A ação consoladora do Espírito Santo retratada pelo estalajadeiro a quem é confiado o homem que caiu nas mãos dos bandidos (cf. Lc 10,34-35): Basílio interpreta aquela parábola do Bom Samaritano e no estalajadeiro vê o Espírito Santo que permite que a boa vontade de um homem e o pecado de outro sigam um caminho harmonioso.

Além disso, quem guarda a Igreja é o Espírito Santo. Depois, o Espírito Santo tem um exercício paraclético multifacetado. Devemos aprender a ouvir as vozes do Espírito: são todas diferentes. Aprenda a discernir.

E depois, o Espírito é Quem faz a Igreja: é Ele quem faz a Igreja. Existe uma conexão muito importante entre a Palavra e o Espírito. Podemos pensar nisto: a Palavra e o Espírito. A Escritura, a Liturgia, a tradição antiga falam-nos da “tristeza” do Espírito Santo, e uma das coisas que mais entristece o Espírito Santo são as palavras vazias.

Palavras vazias, palavras mundanas e – resumindo-se um pouco a um certo hábito humano, mas não bom – tagarelice. A tagarelice é o anti-Espírito Santo, vai contra.

É uma doença muito frequente entre nós. E palavras vazias entristecem o Espírito Santo. “Não entristeçais o Espírito Santo de Deus com quem fostes marcados” (cf. Ef 4:30). Que grande mal é entristecer o Espírito Santo de Deus, preciso dizer?

Fofoca, maledicência: isso entristece o Espírito Santo. É a doença mais comum na Igreja, tagarelice. E se não deixarmos que Ele nos cure desta doença, dificilmente um caminho sinodal será bom.

Pelo menos aqui: se você não concorda com o que diz aquele bispo ou aquela freira ou aquele leigo ali, diga na cara dele. É por isso que é um Sínodo. Para falar a verdade, não a conversa por baixo da mesa.

O Espírito Santo nos confirma na fé. Ele é quem faz isso o tempo todo…

Leia estes textos de Basílio, estão na sua língua, porque acredito que nos ajudarão a abrir espaço no coração para o Espírito.

Repito: não é um parlamento, não é um encontro para a pastoral da Igreja. Isto é um sínodo, caminhar juntos é o programa.

Fizemos muitas coisas, como disse Sua Eminência: consulta, tudo isso, com o povo de Deus, mas quem faz isso com as próprias mãos, quem guia é o Espírito Santo. Se Ele não estiver presente, isso não dará um bom resultado.

Insisto nisto: por favor, não entristeça o Espírito. E em nossa teologia abra espaço para o Espírito Santo. E também neste Sínodo discernir as vozes do Espírito daquelas que não são do Espírito, que são mundanas.

Na minha opinião, a doença mais feia que hoje – sempre, mas também hoje – se vê na Igreja é a que vai contra o Espírito, ou seja, a mundanidade espiritual.

Um espírito, mas não um santo: do mundanismo. Cuidado com isto: não tomemos o lugar do Espírito Santo com as coisas mundanas – mesmo as boas – como o bom senso: isso ajuda, mas o Espírito vai mais longe.

Devemos aprender a viver em nossa Igreja com o Espírito Santo. Eu recomendo, reflita sobre estes textos de São Basílio que nos ajudarão muito.

Então, quero dizer que neste Sínodo – também para dar espaço ao Espírito Santo – há a prioridade da escuta, há esta prioridade. E temos de deixar um recado aos operadores de imprensa, aos jornalistas, que fazem um trabalho muito, muito bom.

Devemos dar uma comunicação que seja o reflexo desta vida no Espírito Santo. É preciso uma ascese – desculpem-me se falo assim aos jornalistas – um certo jejum da palavra pública para salvaguardar isto. E o que é publicado deve estar nesse clima.

Alguns dirão – eles estão dizendo isso – que os bispos têm medo e é por isso que não querem que os jornalistas o digam. Não, o trabalho dos jornalistas é muito importante. Mas devemos ajudá-los a dizer isto, isto, ir no Espírito.

E mais do que a prioridade de falar, existe a prioridade de ouvir. E peço aos jornalistas que façam o favor de fazer com que as pessoas entendam isso, para que saibam que a prioridade é ouvir.

Quando houve o Sínodo sobre a família, havia a opinião pública, formada pela nossa mundanidade, de que se tratava de dar a comunhão aos divorciados: e assim entrámos no Sínodo.

Quando aconteceu o Sínodo da Amazônia, houve opinião pública, pressão, seja para fazer o viri probati: entramos com essa pressão.

Agora há algumas hipóteses sobre este Sínodo: “o que farão?”, “talvez o sacerdócio para as mulheres”…, não sei, essas coisas que dizem lá fora.

E dizem muitas vezes que os bispos têm medo de comunicar o que está acontecendo. Por isso peço a vocês, comunicadores, que desempenhem bem o seu papel, corretamente, para que a Igreja e as pessoas de boa vontade – os outros dirão o que quiserem – entendam que a Igreja também tem a prioridade da escuta.

Transmitam isso: é muito importante.

Obrigado por ajudar a todos nós nesta “pausa” da Igreja. A Igreja parou, como pararam os Apóstolos depois da Sexta-Feira Santa, aquele Sábado Santo, fechou, mas aqueles por medo, nós não. Mas ainda é.

É uma pausa para toda a Igreja, na escuta. Esta é a mensagem mais importante. Obrigado pelo seu trabalho, obrigado pelo que você faz. E recomendo, se puder, ler essas coisas de São Basílio, que ajudam muito. Obrigado.

+++

– Copyright © Dicastero per la Comunicazione – Libreria Editrice Vaticana

– Traduzido ao português por este site, do original italiano, do site Sínodo dos Bispos, no Vaticano, cujo link segue abaixo:

 

Leia:

25.10.2023 – Sínodo da Sinodalidade 2023 – Carta da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos ao Povo de Deus: “a sinodalidade é o caminho do terceiro milênio.”  

 


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