Dias Litúrgicos

17 de Outubro: Memória Litúrgica de Santo Inácio de Antioquia – Padroeiro deste Apostolado

 

Créditos da Imagem acima: Principium Unitatis 

 

Inácio, bispo de Antioquía na Síria, foi condenado às feras em sua velhice, na época de Trajano (por volta do ano 110). Enviado a Roma com um piquete de soldados para morrer nos jogos de gladiadores, foi escrevendo várias cartas durante o caminho (possuímos sete, nem todas de autenticidade assegurada) às diversas comunidades cristãs pelas quais havia passado, à comunidade romana aonde se dirigia, ou ao venerável bispo Policarpo de Esmirna.

Estas cartas estão escritas em momentos de grande intensidade interior, refletindo a atitude espiritual de um homem que já aceitou plenamente a morte por Cristo, e só anseia o momento de se unir definitivamente com Ele. O desejo de “alcançar a Cristo” expressa-se nelas com um vigor inigualável.

Ao mesmo tempo, afloram as preocupações do santo bispo, com respeito aos perigos doutrinais das Igrejas. Por um lado, quer assegurar a correta interpretação do sentido da encarnação de Cristo, tanto contra os judaizantes que minimizavam o valor da vinda de Cristo na carne, como uma superação da antiga dispensação, como contra os docetistas, que negavam a realidade da mesma encarnação, afirmando que o Verbo de Deus tinha só havia tomado uma aparência humana.

Desta forma, encontramos já em Inácio, as bases da cristologia ortodoxa posterior. Por outro lado, Inácio está preocupado por assegurar a unidade ameaçada dentro das Igrejas: por isso insiste na união com o bispo, como princípio de unidade.

Além disso, há indícios de que ainda algumas das cartas autênticas, podem conter interpolações de época posterior. A coleção de cartas de Inácio foi ampliada em época bastante posterior com outras cartas, hoje universalmente reconhecidas como apócrifas. (JOSEP VIVES)

* * * * *

O retorno do imperador Trajano a Roma, após a conquista da Dácia – atual Romênia – foi celebrado com cento e vinte e três dias de espetáculos. Dez mil gladiadores pereceram nos jogos circenses. Também foram devorados pelas feras muitos condenados, pelo simples fato de serem cristãos. Entre eles o bispo de Antioquía, Inácio.

Preso e julgado, o prisioneiro abandonou a grande metrópole da Síria em direção a Roma, carregado de correntes e bem escoltado por um pelotão de dez soldados da coorte Lepidiana, chamados leopardos. Corria provavelmente o ano 106, ou princípios de 107.

Inácio foi o segundo ou terceiro sucessor de São Pedro na sé de Antioquía, pois os testemunhos não são unânimes. Acima de tudo, foi um pastor de almas, enamorado de Cristo e preocupado tão só em guardar o rebanho que lhe havia sido confiado. Seu melhor retrato nos proporciona ele mesmo, nas cartas que escreveu a diversas comunidades cristãs, enquanto se encontrava no caminho para Roma.

Por seu conteúdo, estas cartas têm grande interesse doutrinal. Bastante dos temas que tratam, são determinados pela polêmica contra as heresias mais difundidas, especialmente o docetismo, que negava a realidade da encarnação do Verbo. Santo Inácio afirma com energia a verdadeira divindade e a verdadeira humanidade do Filho de Deus.

Outro ponto importante é a doutrina sobre a Igreja. Santo Inácio considera que o ser da Igreja está profundamente ancorado na Trindade, e, ao mesmo tempo, expõe a doutrina da Igreja como Corpo de Cristo.

Sua unidade torna-se visível na estrutura hierárquica, sem a qual não há Igreja, e sem a qual não é possível celebrar a Eucaristia. A Hierarquia aparece constituída por bispos, sacerdotes e diáconos.

Trata-se de um testemunho precioso, por sua clareza e antiguidade. Toda a comunidade deve obedecer ao bispo, que representa Deus, o bispo invisível. Ao bispo devem submeter-se o presbitério e os diáconos, até o ponto de que, se alguém obra algo à margem da hierarquia, afirma, “não é puro em sua consciência”.

Ignacio mostra ser um homem de grande coração. Agradece emocionado a finura da fraternidade dos primeiros cristãos, que, – apenas conhecer seu cativeiro – se dão com ele, proporcionando o necessário para a viagem, ofereceram-se para acompanhá-lo e compartilhar sua sorte.

Correm a confortá-lo das cidades vizinhas, mas são eles que voltam emocionados e contagiados do amor a Deus. Graças à sua intensa vida interior, Santo Inácio tenta fazer o maior bem possível nos lugares por onde passa, abrindo aos demais, o tesouro dos dons que o Espírito Santo lhe concedeu.

Com uma grande humildade afirma: “Não vos dou ordens como se fosse alguém”, mas sua caridade sabe usar tons enérgicos quando necessário: não esquiva de corrigir, ainda que doa, nem denunciar a heresia ou desvios disciplinares.

Este é o propósito principal das epístolas inacianas. Ao largo de sua viagem, observa e escuta o que ocorre: discerne rapidamente os velhos erros já repetidamente combatidos pelos Apóstolos, cuja raiz maligna continua a brotar por todo o lado: o docetismo, que propugnava um Cristo aparente, não realmente encarnado; o gnosticismo, que dissolve o cristianismo para reduzi-lo a uma ciência de autossalvação baseada no conhecimento de verdades pseudofilosofias; as tendências judaizantes, o rigorismo ético… E sobretudo, uma doutrina que quer dividir a Igreja em dois blocos contrapostos, enfrentando os fiéis contra o bispo e o seu presbitério. (LOARTE)

* * * * *

Como dissemos, Inácio escreveu as suas famosas sete cartas a caminho de Roma, onde foi levado para sofrer o martírio.

Quatro foram escritas desde Esmirna às Igrejas de Éfeso, Magnésia, Trales e Roma. Nelas, agradece-lhes as demonstrações de afeto para com sua pessoa; os põe em guarda contra as heresias, e anima-os a estar unidos aos seus bispos. Na dirigida aos romanos, roga-lhes que não façam nada para evitar o seu martírio, que é a sua máxima aspiração.

As outras três, as escreveu desde Trôade: à Igreja de Esmirna e ao seu bispo Policarpo, a quem agradece suas atenções, e à Igreja de Filadélfia. São semelhantes às outras quatro, acrescentando a alegre notícia de que terminou a perseguição em Antioquía e, naquele dirigido a Policarpo, dá uns conselhos sobre a maneira de desempenhar seus deveres de bispo.

Estas cartas são uma esplêndida fonte de conhecimento da vida interna da Igreja primitiva, com o seu clima de mutua solicitude e afeto. Mostram-nos também os sentimentos de Inácio, cheio de amor a Cristo.

Através delas, Inácio revela deixa ver com especial clareza, a pacífica posse de algumas verdades fundamentais da fé, o que resulta ainda de maior interesse, por causa da natureza inicial de seu testemunho.

Assim, Cristo ocupa um lugar central na história da salvação, e já os profetas que anunciaram a sua vinda já eram em espirito discípulos seus. Cristo é Deus e se fez homem, é Filho de Deus e filho de Maria, virgem. É verdadeiramente homem. Seu corpo é um corpo verdadeiro, e os seus sofrimentos foram reais, tudo isso ele diz diante dos Docetas (do grego dokéo = aparecer), que sustentavam que o corpo de Cristo era aparência.

É nestas cartas que encontramos pela primeira vez a expressão “Igreja Católica”, para referir-se ao conjunto dos cristãos. A Igreja é chamada “lugar do sacrifício”. É provável que isto se refira à Eucaristia como um sacrifício da Igreja, uma vez que a Didaké também chama a Eucaristia de “sacrifício”. Além disso, “a Eucaristia é a Carne de Cristo, a mesma que sofreu por nossos pecados”.

A hierarquia da Igreja, formada por bispos, presbíteros e diáconos, com suas respectivas funções, aparece com tanta clareza em seus escritos, que esta foi uma das razões principais pelos quais se chegou a negar que as cartas foram autênticas, por parte dos que opinavam que se haveria um desenvolvimento mais lento e gradual da organização eclesiástica. Mas esta autenticidade está hoje fora de qualquer dúvida.

O bispo representa Cristo. É o mestre. Quem está unido a ele está unido a Cristo. Ele é o sumo sacerdote e o que administra os sacramentos, de maneira que sem contar com ele não se pode administrar nem o batismo e nem a Eucaristia. E até o matrimônio é conveniente que se celebre com seu conhecimento.

A este respeito, Inácio segue de perto o ensinamento de São Paulo: que as mulheres amem a seus maridos e os maridos às suas mulheres, como o Senhor ama a sua Igreja. Mas para os que se sentem capazes, ele recomenda a virgindade.

Na saudação inicial da carta aos Romanos, Inácio se excede e trata a Igreja de Roma de forma distinta como trata as demais, com especiais louvores.

O tom geral da saudação pode se tomar como um testemunho do primado de Roma, ainda de maior interesse por provir do bispo da sé de Antioquía: uma sede antiga, que conta São Pedro como seu primeiro bispo, estabelecida em uma das maiores e mais influentes cidades do Império, na qual começaram a chamar-se cristãos, os seguidores de Cristo.

Algumas de suas frases, ainda que de difícil interpretação, sublinham esta impressão: é a Igreja «posta à cabeça da caridade», cujo significado mais provável parece ser o de que é a Igreja que tem autoridade para dirigir, no que se refere ao essencial da mensagem de Cristo.

Para Santo Inácio, a vida do cristão consiste em imitar a Cristo, como Ele imitou o Pai. Esta imitação deve ir mais além de seguir seus ensinamentos. Deve chegar a imitá-lo especialmente na sua paixão e morte. É daí de onde nasce sua ânsia pelo martírio: “Sou o trigo de Deus e devo ser moído pelos dentes das feras, para poder ser apresentado como pão limpo de Cristo”.

Por outro lado, esta imitação vem facilitada, porque Cristo vive em nós como num templo, e nós chegamos a viver Nele. Por isso os cristãos estamos unidos entre nós, porque estamos unidos a Cristo. (MOLINÉ)

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Créditos da Matéria: Mercaba

Traduzido do espanhol por este site.

 

PAPA BENTO XVI

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 14 de Março 2007

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Santo Inácio de Antioquia

Queridos irmãos e irmãs!

Como já fizemos na quarta-feira passada, falamos das personalidades da Igreja nascente. Na semana passada falámos do Papa Clemente I, terceiro Sucessor de São Pedro. Hoje falamos de Santo Inácio, que foi o terceiro Bispo de Antioquia, entre os anos 70 e 107, data do seu martírio.

Naquele tempo Roma, Alexandria e Antioquia eram as três grandes metrópoles do império romano. O Concílio de Niceia fala de três “primados”: o de Roma, mas também Alexandria e Antioquia participam, num certo sentido, a um “primado”. Santo Inácio era Bispo de Antioquia, que hoje se encontra na Turquia. Aqui, em Antioquia, como sabemos dos Actos dos Apóstolos, surgiu uma comunidade cristã florescente: primeiro Bispo foi o apóstolo Pedro assim nos diz a tradição e ali “pela primeira vez, os discípulos começaram a ser tratados pelo nome de “cristãos”” (Act 11, 26). Eusébio de Cesareia, um historiador do IV século, dedica um capítulo inteiro da sua História Eclesiástica à vida e à obra literária de Inácio (3, 36). “Da Síria”, ele escreve, “Inácio foi enviado a Roma para ser lançado às feras, por causa do testemunho por ele dado a Cristo. Realizando a sua viagem através da Ásia, sob a vigilância severa dos guardas” (que ele chamava “dez leopardos” na sua Carta aos Romanos 5, 1), “nas várias cidades por onde passava, com pregações e admoestações, ia consolidando as Igrejas; sobretudo exortava, muito fervorosamente, a evitar as heresias, que na época começavam a pulular, e recomendava que não se separassem da tradição apostólica”. A primeira etapa da viagem de Inácio rumo ao martírio foi a cidade de Esmirna, onde era Bispo São Policarpo, discípulo de São João. Ali Inácio escreveu quatro cartas, respectivamente às Igrejas de Éfeso, de Magnésia, de Tralli e de Roma. “Tendo partido de Esmirna”, prossegue Eusébio, “Inácio chega a Tróade, e de lá enviou novas cartas”: duas às Igrejas de Filadélfia e de Esmirna, e uma ao Bispo Policarpo. Eusébio completa assim o elenco das cartas, que chegaram até nós da Igreja do primeiro século como um precioso tesouro. Lendo estes textos sente-se o vigor da fé da geração que ainda tinha conhecido os Apóstolos. Sente-se também nestas cartas o amor fervoroso de um santo. Finalmente de Tróade o mártir chegou a Roma, onde, no Anfiteatro Flávio, foi lançado às feras.

Nenhum padre da Igreja expressou com a intensidade de Inácio o anseio pela união com Cristo e pela vida n’Ele. Por isso lemos o trecho do Evangelho sobre a vinha, que segundo o evangelho de João é Jesus. Na realidade, afluem em Inácio duas “correntes” espirituais: a de Paulo, que tende totalmente para a união com Cristo, e a de João, concentrada na vida n’Ele. Por sua vez, estas duas correntes desembocam na imitação de Cristo, várias vezes proclamado por Inácio como “o meu” e “o nosso Deus”. Assim Inácio suplica os cristãos de Roma para que não impeçam o seu martírio, porque está impaciente por “unir-se a Jesus Cristo”. E explica: “É bom para mim morrer indo para (eis) Jesus Cristo, em vez de reinar até aos confins da terra. Procuro a Ele, que morreu por mim, quero a Ele, que ressuscitou por nós… Deixai que eu seja imitador da Paixão do meu Deus!” (Aos Romanos 5-6). Pode-se captar nestas expressões fervorosas de amor o elevado “realismo” cristológico típico da Igreja de Antioquia, como nunca atento à encarnação do Filho de Deus e à sua humanidade verdadeira e concreta: Jesus Cristo, escreve Inácio aos Esmirnenses, “pertence realmente à estirpe de David”, realmente nasceu de uma virgem”, “realmente foi crucificado por nós” (1, 1).

A propensão irresistível de Inácio para a união com Cristo funda uma verdadeira “mística da unidade”. Ele próprio define-se “um homem ao qual foi confiada a tarefa da unidade” (Aos Filadelfenses 8, 1). Para Inácio a unidade é antes de tudo uma prerrogativa de Deus, que existindo em três Pessoas é Uno em absoluta unidade. Ele repete muitas vezes que Deus é unidade, e que só em Deus ela se encontra no estado puro e originário. A unidade a ser realizada nesta terra pelos cristãos é unicamente uma imitação, o mais possível conforme com o arquétipo divino. Desta forma Inácio chega a elaborar uma visão da Igreja, que recorda de perto algumas expressões da Carta aos Coríntios de Clemente Romano. “É bom para vós”, escreve por exemplo aos cristãos de Éfeso, “proceder juntos de acordo com o pensamento do bispo, o que já fazeis. De facto, o vosso colégio dos presbíteros, justamente famoso, digno de Deus, está assim harmoniosamente unido ao bispo como as cordas à cítara. Por isso, na vossa concórdia, e no vosso amor sinfónico Jesus Cristo é cantado. E assim vós, um por um, tornais-vos coro, para que na sinfonia da concórdia, depois de ter tomado o trono de Deus na unidade, canteis a uma só voz” (4, 1-2). E depois de ter recomendado aos Esmirnenses que “nada empreendessem do que diz respeito à Igreja sem o bispo” (8, 1), diz a Policarpo: “Eu ofereço a minha vida por aqueles que são submetidos ao bispo, aos presbíteros e aos diáconos. Que eu possa com eles ter parte em Deus. Trabalhai juntos uns para os outros, lutai juntos, correi juntos, sofrei juntos, dormi e vigiai juntos como administradores de Deus, seus assessores e servos. Procurai agradar Àquele pelo qual militais e do qual recebeis os favores. Que nenhum de vós seja desertor. O vosso baptismo permaneça como um escudo, a fé como um elmo, a caridade como uma lança, a paciência como uma armadura” (6, 1-2).

Complexivamente podemos ver nas Cartas de Inácio uma espécie de dialéctica constante e fecunda entre dois aspectos característicos da vida cristã: por um lado a estrutura hierárquica da comunidade eclesial, e por outro a unidade fundamental que liga entre si todos os fiéis em Cristo. Portanto, os papeis não se podem contrapor. Ao contrário, a insistência sobre a comunhão dos crentes entre si e com os próprios pastores é continuamente reformulada através de eloquentes imagens e analogias: a cítara, as cordas, a afinação, o concerto, a sinfonia. É evidente a responsabilidade peculiar dos bispos, dos presbíteros e dos diáconos na edificação da comunidade. Para eles é válido antes de tudo o convite ao amor e à unidade. “Sede um só”, escreve Inácio aos Magnésios, retomando a oração de Jesus na Última Ceia: “Uma só súplica, uma única mente, uma só esperança no amor… Acorrei todos a Jesus Cristo como ao único templo de Deus, como ao único altar: ele é um, e procedendo do único Pai, permaneceu unido a Ele, e a Ele voltou na unidade” (7, 1-2). Inácio, o primeiro na literatura cristã, atribui à Igreja o adjectivo “católica”, isto é “universal”: “Onde estiver Jesus Cristo”, afirma ele, “ali está a Igreja” (Aos Esmirnenses 8, 2). E precisamente no serviço de unidade à Igreja católica, a comunidade cristã de Roma exerce uma espécie de primado no amor: “Em Roma ela preside digna de Deus, venerável, digna de ser chamada beata… Preside à caridade, que tem a lei de Cristo e o nome de Pai” (Aos Romanos, Prólogo).

Como se vê, Inácio é verdadeiramente o “doutor da unidade”: unidade de Deus e unidade de Cristo (não obstante as várias heresias que começavam a circular e dividiam o homem e Deus em Cristo), unidade da Igreja, unidade dos fiéis “na fé e na caridade, das quais nada há de mais excelente” (Aos Esmirnenses 6, 1). Para concluir, o “realismo” de Inácio convida os fiéis de ontem e de hoje, convida todos nós a uma síntese progressiva entre configuração com Cristo (união com Ele, vida n’Ele) e dedicação à sua Igreja (unidade com o Bispo, serviço generoso à comunidade e ao mundo). Em resumo, é necessário alcançar uma síntese entre comunhão da Igreja no seu interior e missão proclamação do Evangelho para os outros, até quando, através de uma dimensão se manifeste a outra, e os crentes “possuam” cada vez mais “aquele espírito indiviso, que é o próprio Jesus Cristo” (Aos Magnésios 15). Implorando do Senhor esta “graça de unidade”, e na convicção de presidir à caridade de toda a Igreja (cf. Aos Romanos, Prólogo), dirijo a vós os mesmos votos que concluem a carta de Inácio aos cristãos de Trali: “Amai-vos uns aos outros com um coração indiviso. O meu espírito oferece-se em sacrifício por vós, não só agora, mas também quando tiver alcançado Deus… Que possais ser encontrados em Cristo sem mancha” (13). E rezemos para que o Senhor nos ajude a alcançar esta unidade e a sermos encontrados finalmente sem mancha, porque é o amor que purifica as almas.


Saudações

Amados peregrinos de língua portuguesa!

Os comentários feitos há pouco sobre Santo Inácio de Antioquia, ajudam-nos a seguir os passos de um santo mártir que lutou pela unidade com Deus e com a Igreja. Isto mesmo é o que hoje desejo para todos, ao encorajar-vos a ser testemunhas da fé, em união com o Sucessor de Pedro.

Ao dar-vos as boas-vindas, saúdo todos os presentes, de modo particular os grupos de portugueses e de brasileiros, neles incluindo a comunidade “Shalom” de Fortaleza, com os votos de que leveis avivada a consciência de serdes Igreja missionária, desejosa de contribuir para a unidade de todos os homens na verdade e no amor! Com a minha Bênção, extensiva aos vossos familiares e comunidades eclesiais.

Saudação aos fiéis das Dioceses da Puglia com os seus Bispos em visita “ad limina Apostolorum” :

Dirijo cordiais boas-vindas aos peregrinos de língua italiana. Dirijo uma saudação particular aos fiéis das Dioceses da Puglia, que vieram com os seus Bispos por ocasião da Visita ad Limina Apostolorum.

Queridos amigos, encorajo-vos a sentir-vos cada vez mais comprometidos na missão da Igreja para ir ao encontro dos numerosos desafios sociais e religiosos da época actual com renovado impulso apostólico. E vós, queridos Irmãos no Episcopado, não vos canseis de solicitar quantos estão confiados aos vossos cuidados pastorais a encontrar pessoalmente Cristo vivo no meio de nós, aderindo integralmente ao seu Evangelho e às exigências morais que dele brotam.

© Copyright 2007 – Libreria Editrice Vaticana

 

Copyright © Dicastero per la Comunicazione – Libreria Editrice Vaticana

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Créditos da Matéria: Vaticano

CARTAS DE SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA

APRESENTAÇÃO DE SÃO JERÔNIMO

“Inácio, terceiro bispo, depois do Apóstolo Pedro, da Igreja de Antioquia, foi enviado prêso a Roma, condenado às feras durante a perseguição movida por Trajano”, [provavelmente no ano 107 DC]. “Chegando por mar a Esmirna, onde Policarpo, o ouvinte de João, era bispo, escreveu uma carta aos efésios, outra aos magnésios, uma terceira aos tralianos, e a quarta aos romanos. Partindo daí, escreveu aos filadélfios, aos esmirnenses, e em particular ainda a Policarpo, recomendando-lhe a Igreja de Antioquia”. 

Inácio, também chamado Teóforo, àquela que é bendita em grandeza na plenitude de Deus Pai, predestinada antes dos séculos a existir em todo o tempo, unida para uma glória imperecível e imutável, e eleita na Paixão verdadeira, pela vontade do Pai e de Jesus Cristo nosso Deus – à Igreja digna de bem-aventurança, que vive em Éfeso da Ásia, todos os bens em Jesus Cristo e os cumprimentos numa alegria impoluta.

 

1.

1 Tomei conhecimento em Deus de vosso nome tão apreciado, que granjeastes por uma apresentação correta, baseada na fé e caridade em Jesus Cristo nosso Salvador. Sendo imitadores de Deus, reanimados no sangue de Deus, levastes a têrmo a obra que vos é congênita. 2 Assim ouvindo que eu vinha da Síria, prêso pelo Nome e pela esperança que nos são comuns, confiando chegar até Roma para combater as feras, graças à vossa oração, a fim de ter a felicidade de tornar-me discípulo, vós vos apressastes em ver-me. 3 Recebi pois tôda a vossa grande comunidade em nome de Deus na pessoa de Onésimo, dotado de indizível caridade e vosso bispo segundo a carne. Peço-vos que o ameis em Jesus Cristo e que a êle todos vos assemelheis. Bendito Aquêle que vos fêz a graça, já que vos mostrastes dignos de possuirdes tal bispo.

 

2.

1 Quanto a Burrus, meu companheiro de serviço e vosso diácono bendito em tôdas as coisas segundo o coração de Deus, pediria que continue a meu lado para honra vossa e de vosso bispo. Mas também Crocos, digno de Deus e de vós, a quem acolhi como prova de vosso amor, confortou-me êle de tôda a sorte, como também o Pai de Jesus Cristo lhe há de dar confôrto junto com Onésimo, Burrus, Euplos e Fronton, pois em suas pessoas vi a todos vós na caridade. 2 Gostaria de merecer a graça de alegrar-me convosco em tudo. Bem, por isso é que convém glorificar de tôda sorte a Jesus Cristo que vos tem glorificado, para que, reunidos em uma só submissão, sujeitos ao bispo e ao presbitério, vos santifiqueis em tôdas as coisas.

 

3.

1 Não vos dou ordens como se fôra alguém. Mesmo que carregue os grilhões pelo Nome, ainda não cheguei à perfeição em Jesus Cristo. Pois agora é que começo a instruir-me e vos falo como a meus condiscípulos. Eu de fato deveria ser ungido por vós com fé, exortações, paciência, grandeza d’alma. 2 Mas, desde que a caridade não me permite calar-me sôbre vós, tomei a dianteira de exortar-vos a correr de acôrdo com o pensamento de Deus. Pois Jesus Cristo, nossa vida inseparável, é o pensamento do Pai, como por sua vez os bispos, estabelecidos até os confins da terra, estão no pensamento de Jesus Cristo.

 

4.

1 Segue daí, que vos convém avançar junto, de acôrdo com o pensamento do bispo, como aliás fazeis. Pois vosso presbitério digno de tão boa reputação, digno que é de Deus, sintoniza com o bispo como cordas com a cítara. Por isso, no acorde de vossos sentimentos e em vossa caridade harmoniosa, Jesus Cristo é que é cantado. 2 Mas também, um por um, chegais a formar um côro, para cantardes juntos em harmonia; acertando o tom de Deus na unidade, cantais em uníssono por Jesus ao Pai, a fim de que vos escute e reconheça pelas vossas boas obras, que sois membros de seu Filho. Vale assim a pena viver em unidade intangível, para que a tôda hora também participeis de Deus.

 

5.

1 Pois, se em tão curto lapso de tempo tive tal intimidade com vosso bispo, não em sentido humano mas espiritual, quanto mais devo felicitar-vos por estardes tão profundamente ligados a êle como a Igreja a Jesus Cristo e como Jesus Cristo ao Pai, para que tôdas as coisas estejam em sintonia na unidade. 2 Não se iluda ninguém. Se não se encontrar no interior do recinto do altar, ver-se-á privado do pão de Deus. Vêde, se a oração de um e dois possui tal fôrça, quanto mais então a do bispo e de tôda a Igreja! 3 Aquêle que não vem à reunião comum já se revela como orgulhoso e se julgou a si próprio, pois está escrito: “Deus se opõe aos orgulhosos”. Por conseguinte, cuidemo-nos de não nos opormos ao bispo, para estarmos submissos a Deus.

 

6.

1 E quanto mais alguém percebe que o bispo se cala, mais o respeite. Pois aquêle a quem o dono da casa delega para a administração é preciso que o recebamos como receberíamos ao que o enviou. Torna-se pois evidente que se deve olhar para o bispo, como para o próprio Senhor. 2 De fato, porém, o mesmo Onésimo exalta vossa boa disciplina em Deus, .dizendo que viveis todos conforme à verdade e que entre vós não há heresia que chegue a tomar pé. Antes pelo contrário, a ninguém mais prestais ouvido, a não ser a Jesus Cristo, que fala na verdade.

 

7.

1 Há os que costumam, por um ardil pernicioso, servir-se por tôda parte do Nome, mas praticam coisas indignas de Deus. A êstes evitareis como a animais selvagens. São realmente cães raivosos, que mordem traiçoeiramente. É preciso precaver-vos de suas mordeduras, difíceis de curar. 2 Um é o médico, em carne e espirito, gerado e não gerado, aparecendo na carne como Deus, na morte vida verdadeira, tanto de Maria como de Deus, primeiro capaz de sofrer, depois impassível, Jesus Cristo Senhor Nosso.

 

8.

1 Que ninguém vos iluda pois. Nem vos deixeis aliás iludir, sendo todo inteiros de Deus. Pois, se nenhuma intriga se armou entre vós, que vos possa atormentar, é sinal de que viveis segundo Deus. Sou vossa vítima e me ofereço em sacrifício por vossa Igreja, efésios, que será celebrada pelos séculos. 2 Os carnais não podem praticar obras espirituais, nem os espirituais obras carnais, como nem a fé pratica as obras da infidelidade nem a infidelidade as da fé. Mas também aquilo que praticais, segundo a carne, é espiritual, pois fazeis tudo em Jesus Cristo.

 

9.

1 Soube de pessoas que por lá passaram, fazendo-se portadoras de más doutrinas: não lhes permitistes espalhá-las entre vós, tapando os ouvidos para não acolher as sementes por êles espalhadas, sabendo que sois pedras do templo do Pai, preparadas para a construção de Deus Pai, alçadas para as alturas pela alavanca de Jesus Cristo, alavanca que é a Cruz, servindo-vos do Espírito Santo como de um cabo. Vossa fé por um lado é o guia, enquanto a caridade se transforma em caminho que leva para cima, até Deus. 2 Sois assim todos companheiros de viagem, portadores de Deus, portadores de um templo, portadores de Cristo, portadores do que é santo, adornados em todos os sentidos com os preceitos de Jesus Cristo. Alegro-me por isso convosco, porque tive a honra de falar-vos através dessa carta e de vos felicitar, porque, segundo a nova vida, nada amais senão sòmente a Deus.

 

10.

1 Mas também pelos demais homens rezai sem cessar. Pois nêles existe esperança de conversão, de chegarem a Deus. Permiti-lhes que se instruam junto a vós por vossas obras. 2 Diante de suas explosões de cólera, vós sereis mansos; diante de sua presunção, se reis humildes; diante de suas blasfêmias, oferecereis orações; diante dos erros dêles, manter-vos-eis firmes na fé; diante de sua selvageria, sereis. pacíficos, sem procurar imitá-los. 3 Que nos encontrem como irmãos pela bondade. Esforcemo-nos por sermos imitadores do Senhor: quem mais do que Êle foi injustiçado? quem mais despojado? quem mais desprestigiado? Assim não seja encontrada entre vós planta. alguma do diabo, mas que em tôda pureza e temperança, permaneçais em Jesus Cristo, corporal e espiritualmente.

 

11.

1 Chegamos aos últimos tempos: resta envergonharmo-nos, temermos a longanimidade de Deus, para que ela não se transforme para nós em condenação. Ou temeremos a ira vindoura, ou amaremos a graça presente. Uma das duas. Só o fato de nos encontrarmos em Cristo Jesus nos garantirá entrada para a vida verdadeira. 2 Fora dêle, nada tenha valor para vós. É n’Êle que carrego os grilhões, estas pérolas espirituais. Com elas gostaria de ressuscitar, graças à vossa oração, na qual espero ter sempre parte para compartilhar também a herança dos cristãos de Éfeso, que também sempre estiveram unidos aos Apóstolos na fôrça de Jesus Cristo.

 

12.

1 Sei quem sou e a quem escrevo. Eu, um condenado; vós, os que alcançastes misericórdia. Eu, em perigo; vós, seguros. 2 Vós sois o lugar de trânsito dos que são assumidos para Deus, iniciados nos mistérios com Paulo, o santificado, que recebeu testemunho, e mereceu chamar-se bem-aventurado, em cujas pegadas gostaria de encontrar-me na hora de estar com Deus, êle que em tôdas as cartas de vós se lembra em Cristo Jesus.

 

13.

1 Cuidai pois de reunir-vos com mais freqüência, para dar a Deus ação de graças e louvor. Pois, quando vos reunis com freqüência, abatem-se as fôrças de Satanás e desfaz-se o malefício, pela vossa união na fé. 2 Nada melhor que a paz, que aniquila tôda guerra de podêres celestes ou terrestres.

 

14.

1 Nada disso constitui novidade, se mantiverdes de modo perfeito em Jesus Cristo a fé e a caridade, que são o comêço da vida e seu fim. Pois o comêço é a fé e o fim a caridade. Ambas reunidas são Deus, enquanto que tudo o mais é conseqüência para a perfeição humana. 2 Ninguém peca enquanto professa a fé, ninguém odeia enquanto possui a caridade. Conhece-se a árvore pelos seus frutos; assim os que professam ser de Cristo serão reconhecidos pelas obras. Pois nesta hora não é de profissão de fé que se trata, mas de nos mantermos na prática da fé até ao fim.

 

15.

1 É melhor calar-se e ser do que falar e não ser. É maravilhoso ensinar, quando se faz o que se diz. Assim, um é o Mestre “que falou e tudo foi feito”; também aquilo que realizou em silêncio é digno do Pai. 2 Quem de fato possui a Palavra de Jesus pode até ouvir-lhe o silêncio; para ser perfeito, para agir pelo que fala e ser reconhecido pelo que cala. 3 Nada escapa ao Senhor; antes, o que é segrêdo para nós está perto d’Êle. Façamos pois tudo como se Êle em nós morasse, para sermos seus templos e Ele nosso Deus em nós. E é essa a realidade; e ela se manifestará aos nossos olhos, se o amarmos devidamente.

 

16.

1 Não vos iludais, meus irmãos, os corruptores da família não herdarão o Reino de Deus. 2 Pois, se pereceram os que praticavam tais coisas segundo a carne, quanto mais os que perverterem a fé em Deus, ensinando doutrina má, fé pela qual Jesus Cristo foi crucificado? Um tal, tornando-se impuro, marchará para o fogo inextingüível, como também marchará aquêle que o escuta.

 

17.

1 Por isso, recebeu o Senhor unção sôbre a cabeça para exalar em favor da Igreja o perfume da incorrupção. Não vos deixeis ungir pelo mau odor da doutrina do príncipe dêste mundo, de forma que vos leve cativos para longe da vida que vos espera. 2Por que não nos tornamos prudentes, aceitando o conhecimento de Deus, isto é, Jesus Cristo? Por que morrermos tolamente, desconhecendo o dom que o Senhor nos enviou de verdade?

 

18.

1 Meu espírito é vítima destinada à Cruz, e esta é escândalo para os incréus; para nós porém salvação e vida eterna. Onde se encontra o sábio? Onde o pesquisador? Onde a fama dos assim chamados intelectuais? 2 Pois nosso Deus, Jesus Cristo, tomou carne no seio de Maria segundo o plano de Deus, sendo de um lado descendente de Davi, provindo por outro do Espírito Santo. Nasceu, foi batizado, para purificar a água pela sua Paixão.

 

19.

1 Permaneceu oculta ao príncipe dêste mundo a virgindade de Maria e seu parto, como igualmente a morte do Senhor: três mistérios de grande alcance, que se processaram no silêncio de Deus. 2 Como então foram êles manifestados aos séculos? Um astro brilhou no céu, mais que todos os astros; sua luz era inenarrável e sua novidade suscitou estranheza; tôdas as demais estrêlas por sua vez junto com o sol e a lua formaram côro em tôrno do astro, êle no entanto projetava mais luz que todos os demais; produziu-se confusão: donde viria a novidade, tão diversa dêles próprios? 3 A conseqüência disso foi que tôda a magia se desfez e que desapareceu tôda cadeia de maldade; a ignorância se dissipou, o antigo reinado se destruiu, quando Deus apareceu em forma humana, para a novidade da vida eterna; começou a realizar-se o que fôra decidido junto a Deus. Desde então tudo se movimentou a um tempo, porque se preparava a destruição da morte.

 

20.

1 Se Jesus Cristo, pela vossa oração, me tornar digno e se fôr de Sua vontade, num segundo escrito que desejo compor para vós, hei de esclarecer o que iniciei, a saber o plano da salvação, em relação ao homem nôvo, Jesus Cristo, na fé para Êle e no amor para com Êle, em Sua Paixão e Ressurreição. 2 Sobretudo se o Senhor me revelar, que todos, em particular e em comum, na graça que procede do Nome, vos reunis na mesma fé e em Jesus Cristo, que descende segundo a carne de Davi, filho do homem e filho de Deus, para obedecermos ao bispo e ao presbitério numa concórdia indivisível, partindo um mesmo pão, que é o remédio da imortalidade, antídoto contra a morte, mas vida em Jesus Cristo para sempre.

 

21.

1 Sou preço de resgate para vós e para os que enviastes para honra de Deus a Esmirna, donde também vos escrevo, em sinal de gratidão ao Senhor e como prova de amor a Policarpo como a vós. Lembrai-vos de mim, como também Jesus Cristo se lembra de vós. 2 Rezai pela Igreja da Síria, donde sou levado prêso para Roma. Sendo o último dos fiéis de lá fui julgado digno de servir à honra de Deus. Saudações em Deus Pai e em Jesus Cristo, nossa esperança comum.

Inácio, também chamado Teóforo, envia à Igreja na Magnésia do Meandro, que é abençoada na graça de Deus Pai em Cristo Jesus nosso Salvador, saudações e votos de felicidade em Deus Pai e em Jesus Cristo.

 

1.

1 Tomando conhecimento de vossa caridade bem ordenada segundo Deus, decidi-me, alegre, avançar-vos uma palavra na fé de Jesus Cristo. 2 Honrado com um nome de esplendor divino, nos grilhões que carrego, canto as Igrejas nas quais desejo a união da carne e do espírito de Jesus Cristo, que é nossa vida para sempre, a união da fé e da caridade, à qual nada supera, e, para dizer coisa ainda mais sublime, a união de Jesus e do Pai. Nêle teremos parte em Deus, se resistirmos a tôdas as maquinações do príncipe dêste mundo e delas nos livrarmos.

 

2.

1 Uma vez que tive a honra de ver-vos através de Damas, vosso bispo digno de Deus, e dos dignos presbíteros, Basso e Apolônio, e do colega de serviço e o diácono Zócio, cuja companhia me daria prazer e, porque está sujeito ao bispo como à graça de Deus e ao presbitério como à lei de Jesus Cristo…

 

3.

1 Não vos assentaria bem valer-vos da pouca idade do bispo, dispensai-lhe sim, quanto Deus Pai concede, tôda prova de respeito. Como soube, também os santos presbíteros não menosprezaram a condição de jovem que nêle salta aos olhos, mas se lhe submetem como gente sensata em Deus. Aliás não é a êle que se submetem, mas ao Pai de Jesus Cristo, Bispo de todos. 2 Por respeito Àquele que nos elegeu, convém obedecermos sem nenhuma hipocrisia, uma vez que ninguém engana a tal ou tal bispo visível, mas abusa do bispo invisível. É o caso de dizer, não se trata de carne, mas de Deus que conhece o oculto.

 

4.

1 Convém pois não chamar-se apenas cristão mas o ser também; assim existem pessoas que falam do bispo, mas fazem tudo sem êle. Estes tais não me parecem estar de consciência boa, porque suas reuniões não são legítimas, conforme o mandamento.

 

5.

1 Pois as coisas chegam a seu desfecho e são duas as que nos antolham, a saber, a morte e a vida, e cada qual há de ir para seu lugar próprio. 2 Como existem duas moedas, uma de Deus e outra do mundo, e cada qual delas possui sua cunhagem própria, os infiéis possuem a dêste mundo, os fiéis porém que se acham na caridade, a de Deus Pai através de Jesus Cristo, cuja vida não estará em nós, se não escolhermos livremente, por graça d’Êle, morrer, para participarmos de Sua Paixão.

 

6.

1 Uma vez pois que nas pessoas acima mencionadas cheguei a ver e a amar pela fé tôda a comunidade, exorto: Esforçai-vos por fazer tudo na harmonia de Deus, sob a presidência do bispo em lugar de Deus e dos presbíteros em lugar do colégio dos apóstolos e dos diáconos, particularmente queridos, encarregados do serviço de Jesus Cristo, o qual antes dos séculos estava com o Pai e nos últimos tempos se manifestou. 2 Conformando-vos assim todos ao proceder de Deus, amai-vos uns aos outros, e ninguém considere o próximo segundo a carne, mas amai-vos sempre mùtuamente em Jesus Cristo. Nada haja entre vós que possa dividir-vos, mas uni-vos com o bispo e com os presidentes, para constituirdes uma imagem e um ensinamento de imortalidade.

 

7.

1 Assim como o Senhor nada fêz sem o Pai com o qual estava unido, nem pessoalmente, nem através dos apóstolos, assim também vós nada haveis de empreender sem o bispo e os presbíteros, nem queirais tentar fazer passar por razoável o que fazeis à parte. Cuidai mesmo de haver, em comum, uma só oração, uma só súplica, uma só mente, uma esperança, na caridade, na alegria imperturbável; isto é, Jesus Cristo, a quem nada é preferível. 2 Acorrei todos ao único templo de Deus, ao único altar do sacrifício, a um só Jesus Cristo, que saiu de um só Pai, permaneceu Num só e a Êle voltou.

 

8.

1 Não vos deixeis iludir pelas doutrinas heterodoxas, nem pelos velhos mitos sem utilidade. Pois se ainda agora vivemos conforme o judaísmo, confessamos não ter recebido a graça. 2 Pois os profetas, tão divinos, viveram segundo Jesus Cristo. Por isso mesmo foram perseguidos. Inspiraram-se em Sua graça, a fim de que os incrédulos se convencessem plenamente que há um só Deus, a manifestar-se por Jesus Cristo Seu Filho, Sua palavra saída do silêncio, que em tudo agradou Aquele que O enviou.

 

9.

1 Assim os que andavam na velha ordem das coisas chegaram à novidade da esperança, não mais observando o sábado, mas vivendo segundo o dia do Senhor, no qual nossa vida se levantou por Ele e por Sua morte, embora alguns o neguem. Mas é por êsse mistério, que recebemos a fé e por êle é que perseveramos, para sermos de fato discípulos de Jesus Cristo nosso único mestre. 2 Como pois poderemos viver sem Êle, a quem mesmo os Profetas, discípulos pelo Espírito, esperavam como Seu mestre? E foi por isso que Êle, em quem esperavam na justiça, os ressuscitou dos mortos, pela Sua presença.

 

10.

1 Não nos façamos pois insensíveis à Sua bondade. Pois se Êle imitar nosso proceder, estaremos liquidados. Por isso, tornando-nos discípulos Seus, aprendamos a viver segundo o cristianismo. Pois quem usar outro nome fora dêsse não é de Deus. 2Ponde assim de lado o mau fermento, envelhecido e azedado, e transformai-vos em nôvo fermento, que é Jesus Cristo. Seja Êle vosso sal, para ninguém dentre vós se corromper, pois sereis julgados a partir do odor. 3 É absurdo falar de Jesus Cristo e viver como judeu. O cristianismo não depositou sua fé no judaísmo, mas o judaísmo no cristianismo, junto ao qual se reuniram tôdas as línguas que creram em Deus.

 

11.

1 Tudo isso, meus amados, vos comunico, não porque tivesse sabido que alguns dentre vós assim procedem, mas, sendo o menor dentre vós, desejo ver-vos alertados, para não vos deixardes prender pelos anzóis da vaidade, mas para vos convencerdes plenamente do nascimento, da paixão e da ressurreição que se deu sob Pôncio Pilatos. Tais coisas foram realizadas de verdade e de fato por Jesus Cristo, nossa esperança. E não aconteça a alguém de vós afastar-se dela.

 

12.

1 Gostaria de alegrar-me convosco em tudo, caso o mereça. Pois, mesmo se estou prêso, nada sou em comparação com qualquer um de vós que estais soltos. Sei que não vos encheis de orgulho, pois tendes Jesus Cristo em vós. E mais. Se vos louvo, sei que vos confundis, como está escrito, o justo é seu próprio acusador.

 

13.

1 Cuidai por conseguinte de permanecer firmes nas doutrinas do Senhor e dos Apóstolos, para que tudo quanto fazeis se encaminhe bem na carne e no espírito, na fé e na caridade, no Filho e no Pai e no Espírito, no comêço e no fim, em união com vosso bispo muito digno e a coroa espiritual bem trançada de vosso presbitério e com os diáconos segundo o coração de Deus. 2 Sêde sujeitos ao bispo, e uns aos outros, como Jesus Cristo está sujeito ao Pai, segundo a carne e os Apóstolos a Cristo e ao Pai e ao Espírito, para que a união se faça tanto no corpo quanto no espírito.

 

14.

1 Como sei que estais repletos de Deus, exortei-vos brevemente. Lembrai-vos de mim nas vossas orações, para que chegue a Deus, como também da Igreja da Síria da qual não mereço trazer o nome. De fato preciso estar unido convosco na oração e na caridade em Deus, para que a Igreja na Síria mereça receber o orvalho através de vossa Igreja.

 

15.

1 De Esmirna, donde vos escrevo, saúdam-vos os efésios, que como vós se fizeram presentes para a glória de Deus. Animaram-me em tudo, junto com Policarpo, bispo dos esmirnenses. Também as demais Igrejas vos saúdam na honra de Jesus Cristo. Passar bem na concórdia de Deus, possuidores que sois do espírito indiviso que é Jesus Cristo.

Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja santa de Trales na Ásia, Igreja amada por Deus, Pai de Jesus Cristo, eleita e digna de Deus, que possui a paz na carne e no espírito pela Paixão de Jesus Cristo, nossa esperança na ressurreição que nos conduzirá a Êle. Saúdo-a em tôda a plenitude, à maneira dos Apóstolos, e lhe transmito os votos da maior felicidade.

 

1.

1 Convenci-me de vossos sentimentos puros e intocáveis na paciência; vós os tendes não apenas para uso mas por natureza, como me esclareceu Políbio, vosso bispo, que compareceu por vontade de Deus e Jesus Cristo, em Esmirna, para regozijar-se desta forma comigo, prisioneiro em Jesus Cristo. Nêle, pude assim contemplar toda a vossa comunidade. 2 Tendo pois experimentado através dêle vossa benevolência segundo Deus, eu O glorifiquei, sabendo-vos imitadores d’Êle.

 

2.

1 Na hora em que vos submeteis ao bispo como a Jesus Cristo, me dais a impressão de não viverdes segundo os homens, mas segundo Jesus Cristo, que morreu por nós para fugirdes à morte pela confiança na morte d’Êle. 2 É mesmo necessário, como aliás é de vosso feitio, nada empreender sem o bispo, mas submeter-vos também ao presbitério como a apóstolos de Jesus Cristo nossa Esperança, no qual nos encontraremos se assim nos portarmos. 3 Faz-se igualmente mister que os que são diáconos dos mistérios de Jesus Cristo agradem a todos em tudo. Pois não é de comidas e bebidas que são diáconos, mas são servos da Igreja de Deus. Terão que precaver-se pois contra as acusações como contra o fogo.

 

3.

1 Da mesma forma deverão todos respeitar os diáconos como a Jesus Cristo, como também ao bispo que é a imagem do Pai, aos presbíteros porém como ao senado de Deus e ao colégio dos apóstolos. Sem êles, já não se pode falar de Igreja. 2 Estou convencido que em relação a êles assim procedeis, pois recebi e guardo comigo a prova de vossa caridade na pessoa de vosso bispo: sua mesma presença se constitui num grande ensinamento, sua mansidão é um poder. Suponho que os próprios ateus o respeitem. 3 Por amor vos poupo, embora pudesse escrever com mais veemência sôbre o assunto. Não me atrevi a dar-vos ordens, como se fôra Apóstolo, pois me encontro na condição de condenado.

 

4.

1 Chego a pensar muita coisa em Deus, mas me contenho, para não me perder na vanglória. É exatamente nesta hora que mais devo cuidar-me, não dando atenção aos que me exaltam, pois enquanto falam estão a flagelar-me. 2 Amo, é certo, o sofrimento, mas não sei se sou digno dêle. Minha impaciência não transparece aos olhos da multidão, a mim é que me tortura tanto mais. Necessito assim de mansidão, na qual se aniquila o príncipe dêste mundo.

 

5.

1 Não saberia eu descrever-vos as coisas do céu? Receio porém fazer-vos mal, já que sois ainda crianças. Perdoai-me, se não o faço; não sendo capazes de assimilar, poderíeis sufocar-vos. 2 Pois também eu, embora prisioneiro e capaz de conhecer coisas celestes, mesmo as hierarquias dos anjos e os exércitos dos principados, coisas visíveis e invisíveis, nem por isso ainda sou discípulo. Muito nos falta, para que Deus não nos chegue a faltar.

 

6.

1 Exorto-vos pois, não eu, mas o amor de Jesus Cristo: Servi-vos tão-sòmente de alimento cristão, abstende-vos de planta estranha, isto é, de heresia. 2 Misturam Jesus Cristo a si próprios, fazendo passar-se por dignos de fé, como quem ministra droga mortífera junto com vinho e mel, bebida que o ignorante toma com gôsto, mas gôsto mau, pois é para a morte.

 

7.

1 Cuidai-vos pois de tais pessoas. Fá-lo-eis, se não vos orgulhardes e não vos separardes de Jesus Cristo Deus, nem do bispo nem das prescrições dos Apóstolos. 2 Quem se encontra no interior do santuário é puro; quem se encontra fora do santuário não é puro, isto é, quem pratica alguma coisa sem o bispo, o presbitério e o diácono, êste não é puro em sua consciência.

 

8.

1 Não que tivesse conhecimento de algo assim entre vós; tento sim prevenir-vos como a pessoas queridas, prevendo as ciladas do diabo. Adotai pois a mansidão e renovai-vos na fé, que é a carne do Senhor, e na caridade, que é o sangue de Jesus Cristo. 2 Ninguém dentre vós tenha algo contra o vizinho. Não deis pretextos aos gentios, para que a comunidade de Deus não seja injuriada por causa de uns poucos insensatos. Pois ai daquele por cuja leviandade meu nome fôr por alguns blasfemado.

 

9.

1 Mantende-vos surdos na hora em que alguém vos falar de outra coisa que de Jesus, da descendência de Davi, filho de Maria, o qual nasceu de fato, comeu e bebeu, foi de fato perseguido sob Pôncio Pilatos, de fato foi crucificado e morreu à vista dos que estão nos céus, na terra e debaixo da terra. 2 O qual de fato também ressurgiu dos mortos, ressuscitando-O o próprio Pai. É’ o mesmo Pai d’Êle que, à Sua semelhança, ressuscitará em Cristo Jesus aos que cremos n’Êle; fora d’Êle, não temos vida verdadeira.

 

10.

1 Se porém, como afirmam alguns que são ateus, isto é, sem fé, Êle só tivesse sofrido aparentemente êles é que só existem aparentemente, eu por que estou prêso, por que peço para combater com as feras? Morro pois em vão. Estaria então a mentir contra o Senhor.

 

11.

1 Fugi pois destas plantas parasitas, que produzem fruto mortífero. Se alguém provar delas morre na hora. Não são pois êles plantação do Pai. 2 Se o fôssem, apareceriam como rebentos da cruz, e seu fruto seria imperecível. Pela Cruz, Êle vos conclama em sua Paixão como Seus membros. Não pode uma cabeça nascer sem membros, uma vez que Deus nos promete a unidade que é Êle próprio.

 

12.

1 Saúdo-vos de Esmirna, em companhia das Igrejas de Deus que estão comigo, elas que em todo sentido me confortaram na carne e no espírito. 2 Meus grilhões, que carrego por amor de Jesus Cristo com o pedido de que encontre a Deus, vos conclamam: perseverai em vossa concórdia e na oração comum! Convém que cada um de vós, e de modo particular os presbíteros, confortem o bispo para a honra do Pai, de Jesus Cristo e dos Apóstolos. 3 Desejo que me escuteis com amor, para que com minha carta não me transforme em testemunho contra vós. Rezai também por mim, que preciso de vossa caridade junto à misericórdia de Deus, para tornar-me digno da herança que me toca alcançar, para não ser encontrado indigno de recebê-la.

 

13.

1 Saúda-vos a caridade dos esmirnenses e efésios. Lembrai-vos em vossas orações da Igreja na Siria: não mereço trazer-lhe o nome, pois sou o último dentre êles. 2 Passar bem em Jesus Cristo, sujeitando-vos ao bispo como ao mandamento do Senhor, e também ao presbitério. Amai-vos mùtuamente, um por um, em coração indiviso. 3 Meu espírito por vós se empenha, não apenas agora, também quando com Deus me encontrar. Ainda estou em perigo, mas o Pai é fiel, para cumprir em Jesus Cristo o meu e o vosso pedido. Oxalá vos encontreis irrepreensíveis n’Êle!

 

Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja que recebeu misericórdia pela grandeza do Pai altíssimo e de Jesus Cristo Seu Filho único, Igreja amada e iluminada pela vontade d’Aquêle que escolheu todos os seres, isto é, segundo a fé e a caridade de Jesus Cristo nosso Deus, ela que também preside na região da terra dos romanos, digna de Deus, digna de honra, digna de ser chamada bem-aventurada, digna de louvor, digna de êxito, digna de pureza, e que preside à caridade na observância da lei de Cristo e que leva o nome do Pai. Saúdo-a também em nome de Jesus Cristo, filho do Pai. Aos que aderem a todos os seus mandamentos segundo a carne e o espirito, inabalàvelmente cumulados e confirmados pela graça de Deus, purificados de todo colorido estranho, desejo todo o bem e irrepreensível alegria em Cristo Jesus nosso Deus.

 

1.

1 Pela oração, me foi concedida por Deus a graça de um dia contemplar vossos rostos dignos de Deus. Com insistência havia implorado tal favor. Prêso em Cristo Jesus, espero abraçar-vos, se for da vontade d’Êle, que eu mereça chegar ao têrmo. 2 Deu certo o comêço. Oxalá consiga a graça de receber sem impedimento minha herança. É que temo não venha prejudicar-me vossa caridade. Pois a vós é fácil realizar o que pretendeis, enquanto é difícil para mim encontrar-me com Deus, caso vós não me poupeis.

 

2.

1 Não quero que procureis agradar a homens, mas que agradeis a Deus, como de fato agradais. Nem eu terei jamais igual oportunidade de chegar a Deus, nem vós, caso calardes, jamais haveis de ligar vosso nome a obra melhor. Pois, se calardes a meu respeito, serei palavra de Deus; se porém amardes minha carne, não passarei de novo a ser senão uma voz. 2 Não queirais favorecer-me, senão deixando imolar-me a Deus, enquanto há um altar preparado, para formardes pelo amor um côro em homenagem a Deus e cantardes ao Pai em Jesus Cristo, por que Deus se dignou conceder de o bispo da Síria encontrar-se no Ocidente vindo do Oriente. É maravilhoso o ocaso: vir do ocaso do mundo em direção a Deus, para levantar-me junto a Êle.

 

3.

1 Jamais tivestes inveja de alguém, instruístes sim a outrem. É meu desejo que guardem sua fôrça as lições que inculcais a vossos discípulos. 2 Pedi em meu favor ùnicamente a fôrça exterior e interior, a fim de não apenas falar mas também querer, de não apenas dizer-me cristão, mas de me manifestar como tal. Pois, se me manifestar como tal também posso chamar-me assim e ser fiel, na hora em que já não for visível para o mundo. 3 Nenhuma ostentação é boa, pois o nosso Deus, Jesus Cristo, aparece mais desde que está oculto no Pai. O cristianismo não é o resultado de persuasão, mas grandeza, justamente quando odiado pelo mundo.

 

4.

1 Escrevo a todas as Igrejas e insisto junto a todas que morro de boa vontade por Deus, se vós não mo impedirdes. Suplico-vos, não vos transformeis em benevolência inoportuna para mim. Deixai-me ser comida para as feras, pelas quais me é possível encontrar Deus. Sou trigo de Deus e sou moído pelos dentes das feras, para encontrar-me como pão puro de Cristo. 2 Acariciai antes as feras, para que se tornem meu túmulo e não deixem sobrar nada de meu corpo, para que na minha morte não me torne pêso para ninguém. Então de fato serei discípulo de Jesus Cristo, quando o mundo nem mais vir meu corpo. Implorai a Cristo em meu favor, para que por êstes instrumentos me faça vítima de Deus. 3 Não é como Pedro e Paulo que vos ordeno. Êles eram apóstolos, eu um condenado; aquêles, livres, e eu até agora escravo. Mas, quando tiver padecido, tornar-me-ei alforriado de Jesus Cristo, e ressuscitarei n’Êle, livre. E agora, prêso, aprendo a nada desejar.

 

5.

1 Desde a Síria, venho combatendo com feras até Roma, por terra e por mar, de noite e de dia, prêso a dez leopardos, isto é, a um destacamento de soldados, que se tornam piores quando se lhes faz o bem. Por seus maus tratos, porém, estou sendo mais instruído, mas nem por isso estou justificado. 2 Oxalá goze destas feras que me estão preparadas; rezo que se encontrem bem dispostas para mim: hei de instigá-las, para que me devorem depressa, e não aconteça o que aconteceu com outros que, amedrontadas, me não toquem. Se elas por sua vez não quiserem de boa vontade, eu as forçarei. 3 Perdoai-me: sei o que me convém; começo agora a ser discípulo. Coisa alguma visível e invisível me impeça que encontre a Jesus Cristo. Fogo e cruz, manadas de feras, quebraduras de ossos, esquartejamentos, trituração do corpo todo, os piores flagelos do diabo venham sôbre mim, contanto que encontre a Jesus Cristo.

 

6.

1 De nada me valerão os confins do mundo nem os reinos dêste século. Maravilhoso é para mim morrer por Jesus Cristo, mais do que reinar até aos confins da terra. A Ele é que procuro, que morreu por nós; quero Aquêle que ressuscitou por nossa causa. Aguarda-me o meu nascimento. 2 Perdoai-me, irmãos: não queirais impedir-me de viver, não queirais que eu morra; ao que quer ser de Deus não o presenteeis ao mundo nem o seduzais com a matéria. Permiti que receba luz pura: quando lá chegar serei homem. 3 Permiti que seja imitador do sofrimento de meu Deus. Se alguém o possui dentro de si, há de saber o que quero e se compadecerá de mim, porque conhece o que me impulsiona.

 

7.

1 O príncipe deste século quer arrebatar-me e perverter o pensamento voltado para Deus. Ninguém dos presentes queira auxiliá-lo. Passai antes para o meu lado, isto é, para o de Deus. Não tenhais a Jesus Cristo na bôca, para irdes desejar o mundo. 2Não habite inveja em vosso meio. Nem que eu, em pessoa, vos implorasse, não deveríeis obedecer-me: obedecei antes ao que vos escrevo, pois eu o faço como alguém que vive e anela morrer. Meu amor está crucificado e não há em mim fogo para amar a matéria; pelo contrário, água viva, murmurando dentro de mim, falando-me ao interior: Vamos ao Pai! 3 Não me agradam comida passageira, nem prazeres desta vida. Quero pão de Deus que é carne de Jesus Cristo, da descendência de Davi, e como bebida quero o sangue d’Êle, que é Amor incorruptível.

 

8.

1 Já não quero viver à maneira de homens. É o que no entanto acontecerá, caso me apoiardes. Apoiai, para também receberdes apoio. 2 Eu vo-lo peço em poucas palavras: Crede-me, Jesus Cristo, por Sua vez, há de manifestar-vos que digo a verdade, pois é Êle a bôca sem mentiras, pela qual o Pai falou a verdade. 3 Rezai por mim, para que chegue até lá. Não vos escrevi segundo a carne, mas segundo o pensamento de Deus. Se sofrer, será por vossa benevolência; se fôr reprovado, será por causa do vosso ódio.

 

9.

1 Lembrai-vos em vossa oração da Igreja na Síria, a qual, em meu lugar, tem Deus como pastor. Só Jesus Cristo será seu bispo e a vossa caridade. 2 Eu por minha parte me envergonho de ser chamado um dêles; pois não o mereço em nada, sendo o último dentre êles e um abortivo. Mas, por misericórdia, sou alguém, se chego até Deus. 3 Saúda-vos o meu espírito e a caridade das Igrejas que me receberam em nome de Jesus Cristo e não como simples transeunte. Até mesmo aquelas Igrejas que não se encontravam em meu roteiro, segundo a carne, vieram de tôdas as cidades ao meu encontro.

 

10.

1 Escrevo estas coisas a vós de Esmirna, por obséquio dos efésios dignos de serem bem-aventurados. Entre muitos outros, encontra-se comigo também Crocos, nome que me é querido. 2 Quanto aos que me precederam da Síria a Roma para a glória de Deus, espero que com êles tenhais travado conhecimento: comunicai-lhes também que estou perto. Todos êles são dignos de Deus e de vós; conviria que os confortásseis em tudo. 3 Esta minha carta data do nono dia das calendas de setembro. Passar bem, até o fim, à espera de Jesus Cristo.

 

Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo de Filadélfia da Ásia, que encontrou misericórdia e se fortaleceu na união que vem de Deus, cheia de imperturbável alegria na Paixão de Nosso Senhor e plenamente convencida da Ressurreição d’Êle, em tôda misericórdia. Saúdo-a no sangue de Jesus Cristo, pois ela é minha perene e constante alegria, sobretudo se continuarem unidos ao Bispo, aos Presbíteros e Diáconos que estão com êle, instituídos segundo o plano de Jesus Cristo, que por Sua própria vontade os fortaleceu no Seu Espírito Santo.

 

1.

1 Sei que não foi por si mesmo, nem por meios humanos, nem tampouco por ambição, mas na caridade de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo, que o Bispo obteve a incumbência de estar a serviço da comunidade. Admiro comovido sua bondade, que, calada, mais ressonância encontra que as invencionices dos faladores. 2 Harmoniza-se êle com os mandamentos, como a citara com as cordas. Bem por isso, minha alma lhe engrandece a mente voltada para Deus, pois é virtuosa e perfeita, seu caráter firme e manso, tão do agrado do Deus vivo.

 

2.

1 Filhos que sois da luz da verdade, fugi da cisão e das más doutrinas. Onde estiver o pastor, segui-o, quais ovelhas. 2 Pois muitos lôbos, aparentemente dignos de fé, apanham, através dos maus prazeres, os atletas de Deus. Se porém permanecerdes unidos, não acharão lugar entre vós.

 

3.

1 Apartai-vos das ervas daninhas que Jesus Cristo não cultiva, por não serem plantação do Pai. Não que tenha encontrado em vosso meio discórdias, pelo contrário encontrei um povo purificado. 2 Na verdade, os que são propriedade de Deus e de Jesus Cristo estão com o Bispo, e todos os que se converterem e voltarem à unidade da Igreja, pertencerão também a Deus, para terem uma vida segundo Jesus Cristo. 3 Não vos deixeis iludir, meus irmãos. Se alguém seguir a um cismático, não herdará o reino de Deus; se alguém se guiar por doutrina alheia, não se conforma com a Paixão de Cristo.

 

4.

1 Sêde solícitos em tomar parte numa só Eucaristia, porquanto uma é a carne de Nosso Senhor Jesus Cristo, um o cálice para a união com Seu sangue; um o altar, assim como também um é o Bispo, junto com seu presbitério e diáconos, aliás meus colegas de serviço. E isso, para fazerdes segundo Deus o que fizerdes.

 

5.

1 Meus irmãos, transbordo todo de amor para convosco e em meu júbilo procuro confortar-vos. Não eu, mas Jesus Cristo. Estando prêso em Seu nome, temo tanto mais achar-me ainda imperfeito. No entanto, vossa prece me aperfeiçoará para Deus, com o intuito de conseguir a herança na qual obtive misericórdia, buscando refúgio no Evangelho, como na carne de Jesus, e nos Apóstolos como no presbitério da Igreja. 2 Amemos igualmente os Profetas, por terem também êles anunciado o Evangelho, terem esperado n’Êle e O terem aguardado. Foram salvos por Lhe terem dado fé, e, unidos a Jesus Cristo, se tornarem santos dignos do nosso amor e admiração, aprovados pelo testemunho de Jesus Cristo, sendo enumerados no Evangelho da comum esperança.

 

6.

1 Se no entanto alguém vier com interpretações judaizantes, não lhe deis ouvido. É melhor ouvir doutrina cristã dos lábios de um homem circuncidado do que a judaica de um não-circuncidado. Se porém ambos não falarem de Jesus Cristo, tenha-os em conta de colunas sepulcrais e mesmo de sepulcros, sôbre os quais estão escritos apenas nomes de homens. 2 Fugi pois das artimanhas e tramóias do príncipe dêste século, para que não venhais a esmorecer no amor, atribulados pela sagacidade dêle. Todos vós, porém, uni-vos num só coração indiviso. 3 Agradeço a Deus, porque gozo de consciência tranqüila a vosso respeito e porque não há motivo de ninguém gloriar-se, nem oculta nem pùblicamente, por lhe ter sido eu um pêso em coisa pequena ou grande. Faço votos que todos a quem falei assimilem minhas palavras, não porém em testemunho contra si mesmos.

 

7.

1 Alguns desejaram de fato enganar-me segundo a carne, mas o Espírito, que é de Deus, não se deixa enganar, pois Êle sabe donde vem e para onde vai e revela os segredos. Clamei, quando estive entre vós, e o disse alto e bom som, na voz de Deus: “Apegai-vos ao Bispo, ao Presbitério e aos Diáconos!” 2 Alguns desconfiaram que eu assim falava, porque sabia da separação de diversos dêles. No entanto, é-me testemunha Aquêle, por quem estou prêso, que por intermédio de homem carnal não vim a saber coisa alguma. O Espírito é que mo anunciou: Nada façais sem o Bispo! Guardai vosso corpo como templo de Deus! Amai a união! Fugi das discórdias! Tornai-vos imitadores de Jesus Cristo, como Êle o é do Pai!

 

8.

1 Eu por minha parte cumpri o meu dever, agindo como homem destinado a unir. Deus não mora onde houver desunião e ira. A todos porém que se converterem perdoa o Senhor, se voltarem à unidade de Deus e ao senado do Bispo. Confio na graça de Jesus Cristo, pois Êle livrará de tôda cadeia. 2 Exorto-vos a nada praticar em espírito de dissenção, mas sim em conformidade com os ensinamentos de Cristo. É que ouvi alguns dizerem: “Se não o encontro nos documentos antigos, não dou fé ao Evangelho”. Dizendo eu a êles “Está escrito”, responderam-me: “É o que se deve provar!” Para mim, documentos antigos são Jesus Cristo; para mim documentos invioláveis constituem a Sua Cruz, Sua Morte, Sua Ressurreição, como também a Fé que nos vem d’Êle! Nisso é que desejo, por vossa oração, ser justificado.

 

9.

1 Embora fôssem honrados também os sacerdotes, coisa melhor porém é o Sumo-sacerdote, responsável pelo santo dos santos, pois só a Êle foram confiados os mistérios de Deus. É Êle a porta para o Pai, pela qual entram Abraão, Isaac e Jacó, os Profetas, os Apóstolos e a Igreja. Tudo isso leva à unidade de Deus. 2 O Evangelho contém porém algo de mais sublime, a saber, a vinda do Salvador e Senhor nosso Jesus Cristo, a Sua Paixão e Ressurreição. A respeito d’Êle vaticinaram os queridos Profetas. O Evangelho constitui mesmo a consumação da imortalidade. Tudo se reveste de grande importância, se confiardes no Amor.

 

10.

1 Recebi notícia, que graças à oração e à participação íntima que cultivais em Jesus Cristo, a Igreja de Antioquia na Síria recobrou a paz. Convém portanto que vós, como Igreja de Deus, escolhais um diácono para presidir uma embaixada de Deus àquela cidade, e congratular-se com êles, por estarem unidos pelos mesmos vínculos, e glorificar o Nome. 2 Felicito em Jesus Cristo aquêle que fôr achado digno dêste ministério; também vós tereis a vossa glória. Se o quiserdes, isso não vos será impossível para a glória de Deus, pois que também as Igrejas mais vizinhas mandaram ou Bispos, ou Presbíteros e Diáconos.

 

11.

1 A respeito de Fílon, diácono da Cilícia, posso informar: é homem de prestígio, que ainda agora me serve no ministério da palavra de Deus, juntamente com Reos Agátopos, outro homem de consideração, que me acompanha desde a Síria, com desprêzo da. própria vida. Também êles dão testemunho de vós. Da mesma forma eu agradeço a Deus por vós, porque os recebestes, como o Senhor vos recebeu. Aquêles que lhes faltaram de respeito encontrem o perdão pela graça de Deus. 2 Saúda-vos a caridade dos irmãos de Trôade, donde também vos escrevo por intermédio de Burrus que, a pedido dos efésios e esmirnenses, me acompanha; como penhor de honra. O Senhor Jesus Cristo honrá-los-á, pois, n’Êle esperam com corpo, alma, espírito, fé, amor e concórdia. Adeus em Jesus Cristo, esperança comum de nós todos.

 

Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja de Deus Pai e de Jesus Cristo amado, Igreja que encontrou misericórdia em todo dom da graça, repleta de fé e amor, sem que lhe falte dom algum, agradabilíssima a Deus e portadora de santidade, situada em Esmirna, na Ásia cordiais saudações em espírito irrepreensível e na palavra de Deus.

 

1.

1 Glorifico a Jesus Cristo, Deus, que vos fêz tão sábios. Cheguei a saber efetivamente que estais aparelhados com fé inabalável, como que pregados de corpo e alma na Cruz do Senhor Jesus Cristo, confirmados na caridade no Sangue de Cristo, cheios de fé em Nosso Senhor, que é de fato da linhagem de Davi, segundo a carne, Filho de Deus porém consoante a vontade e o poder de Deus, de fato nascido de uma Virgem e batizado por João, a fim de que se cumpra n’Êle tôda a justiça. 2 Sob Pôncio Pilatos e o tetrarca Herodes foi também de fato pregado (na Cruz), em carne, por nossa causa, fruto pelo qual temos a vida, pela Sua Paixão bendita em Deus, a fim de que Êle por Sua ressurreição levantasse Seu sinal para os séculos, em benefício de Seus santos fiéis, tanto judeus, como gentios, no único corpo de Sua Igreja.

 

2.

1 Tudo isso padeceu por nossa causa, para obtermos a salvação. Padeceu de fato, como também de fato ressuscitou a Si próprio, não padecendo só aparentemente, como afirmam alguns infiéis. Êles é que só vivem aparentemente, e, conforme pensam, também lhes sucederá: não terão corpo e se assemelharão aos demônios.

 

3.

1 Eu porém sei e dou fé que Êle, mesmo depois da ressurreição, permanece em Sua carne. 2 Quando se apresentou também aos companheiros de Pedro, disse-lhes: Tocai em mim, apalpai-me e vêde que não sou espírito sem corpo. De pronto n’Êle tocaram e creram, entrando em contacto com Seu Corpo e com Seu espírito. Por isso,. desprezaram também a morte e a ela se sobrepuseram. 3 Após a ressurreição, comeu e bebeu com êles, como alguém que tem corpo, ainda que estivesse unido espiritualmente ao Pai.

 

4.

1 Encareço tais verdades junto a vós, caríssimos, embora saiba que também vós assim pensais. Quero prevenir-vos contra os animais ferozes em forma humana. Não só não deveis recebê-los, mas, quanto possível, não vos encontreis com êles. Só haveis de rezar por êles, para que, quem sabe, se convertam, coisa por certo difícil. Sôbre êles no entanto tem poder Jesus Cristo, nossa verdadeira vida. 2 Pois, se nosso Senhor só realizou as obras na aparência, então também eu estou prêso só aparentemente. Por que então me entreguei a mim mesmo, à morte, ao fogo, à espada, às feras? Mas estar perto da espada é estar perto de Deus; encontrar-se em meio às feras é encontrar-se junto a Deus, ùnicamente porém quando em nome de Jesus Cristo. Para padecer junto com Êle, tudo suporto, confortado por Êle, que se tornou perfeito homem.

 

5.

1 Alguns O negam, por ignorância, ou melhor foram renegados por Êle, por serem antes advogados da morte do que da verdade. A êstes não conseguiram converter as profecias, nem a lei de Moisés, nem mesmo até hoje o Evangelho e as torturas de cada um de nós. 2 Pois sôbre nós professam êles a mesma opinião. De que me vale um homem, ainda que me louve, se blasfema contra meu Senhor, não confessando que Êle assumiu carne? Quem não o professa negou-O por completo e carrega consigo seu cadáver. 3 Os nomes dêles, uma vez que são infiéis, não me pareceu necessário escrevê-los; preferiria até nem lembrar-me dêles, enquanto se não converterem à Paixão, que é a nossa Ressurreição.

 

6.

1 Ninguém se iluda: mesmo os podêres celestes e a glória dos anjos, até os arcontes visíveis e invisíveis hão de sentir o juízo, caso não crerem no sangue de Cristo. Compreenda-o quem fôr capaz de o compreender. Ninguém se ufane de sua posição, pois o essencial é a fé e o amor, e nada se lhes prefira. 2 Considerai bem como se opõem ao pensamento de Deus os que se prendem a doutrinas heterodoxas a respeito da graça de Jesus Cristo, vinda a nós: Não lhes importa o dever de caridade, nem fazem caso da viúva e do órfão, nem do oprimido, nem do prisioneiro ou do liberto, nem do que padece fome ou sêde.

 

7.

1 Abstêm-se êles da Eucaristia e da oração, porque não reconhecem que a Eucaristia é a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, carne que padeceu por nossos pecados e que o Pai, em Sua bondade, ressuscitou. Os que recusam o dom de Deus e morrem disputando. Ser-lhes-ia bem mais útil praticarem a caridade, para também ressuscitarem. 2 Convém, pois, manter-se longe de tais pessoas, deixar de falar delas em particular e em público, e passar tôda a atenção aos Profetas, especialmente ao Evangelho, pelo qual se nos patenteou a Paixão e se consumou a Ressurreição. Fugi das dissensões, fonte de misérias.

 

8.

1 Sigam todos ao bispo, como Jesus Cristo ao Pai; sigam ao presbitério como aos apóstolos. Acatem os diáconos, como à lei de Deus. Ninguém faça sem o bispo coisa alguma que diga respeito à Igreja. Por legítima seja tida tão-sómente a Eucaristia, feita sob a presidência do bispo ou por delegado seu. 2 Onde quer que se apresente o bispo, ali também esteja a comunidade, assim como a presença de Cristo Jesus também nos assegura a presença da Igreja católica. Sem o bispo, não é permitido nem batizar nem celebrar o ágape. Tudo porém o que êle aprovar será também agradável a Deus, para que tudo quanto se fizer seja seguro e legítimo.

 

9.

1 No mais, é razoável voltarmos ao bom-senso, e convertermo-nos a Deus, enquanto ainda fôr tempo. Bom é tomarmos conhecimento de Deus e do bispo. Quem honra o bispo será também honrado por Deus; quem faz algo às ocultas do bispo presta culto ao diabo. 2 Que tudo redunde em graça a vosso favor, pois bem o mereceis. Vós me confortastes de tôda maneira e Jesus Cristo a vós. As provas de carinho me seguiram, presente estivesse eu ou ausente. Que Deus seja a paga, por cujo amor tudo suportais, pelo que também haveis de chegar a possuí-1’O.

 

10.

1 Fizestes bem em receber, como diáconos de Cristo-Deus, a Fílon e Reos Agátopos, que pela causa de Deus me seguiram. Agradecem êles ao Senhor por vós, porque os confortastes de tôda a sorte. Nada disso se perderá para vós. 2 Dou-vos como preço de resgate meu espírito e minhas algemas que vós não desprezastes e de que também não vos envergonhastes. Jesus Cristo também de vós não se envergonhará, Êle que é a fé perfeita.

 

11.

1 Vossa oração aproveitou à Igreja de Antioquia na Síria, de onde vim prêso com grilhões, tão do agrado de Deus, e donde a todos saúdo, embora não seja digno de ser de lá, eu, o menor dentre êles. Mas, pela vontade de Deus, fui tido por digno, não pelo julgamento de minha consciência, mas sim pela graça de Deus. Desejo que ela me seja concedida em sua perfeição, a fim de que eu, por meio de vossa oração, encontre a Deus. 2 No entanto, para que vossa obra seja perfeita, tanto na terra como no céu, cumpre que a Vossa Igreja, para honra de Deus, escolha um seu legado que vá até a Síria, para se congratular com êles, porque gozam novamente de paz, readquiriram sua grandeza e lhes foi restaurado o corpo. 3 É a meu ver de fato obra digna enviardes um legado de vosso meio, com uma carta, a fim de celebrar com êles a paz que lhes foi concedida, consoante a vontade de Deus, pois já chegaram ao pôrto, graças à vossa oração. Sendo perfeitos, pensai também no que é perfeito, pois se tencionais agir bem, Deus está igualmente disposto a vo-lo conceder.

 

12.

1 Saúda-vos a caridade dos irmãos de Trôade, donde vos escrevo por intermédio de Burrus, a quem enviastes juntamente com os efésios, vossos irmãos, para me fazer companhia. Animou-me em todo sentido. Todos deveriam imitá-lo como exemplo no serviço de Deus. A graça o recompensará em todo sentido. 2 Saudações ao bispo, digno de Deus, a vosso presbitério tão agradável a Deus, aos diáconos, meus companheiros de serviço, a cada um em particular e a todos em geral, em nome de Jesus Cristo, na Sua carne e no Seu sangue, na Paixão e na Ressurreição, em corpo e alma, na unidade de Deus e na vossa. Para vós a graça, a misericórdia, a paz, e a paciência para todo sempre.

 

13.

1 Saudações às famílias de meus irmãos, com suas espôsas e filhos e com as virgens, chamadas viúvas. Passar bem na fôrça do Pai. Saudações da parte de Fílon que está comigo. 2 Meus cumprimentos à família de Tavia, a quem desejo se robusteça na fé e na caridade, tanto corporal como espiritual. Saudações a Alceu, nome tão querido, a Dafnos o incomparável e a Eutecno. Enfim, a todos nominalmente. Passar bem na graça de Deus.

Inácio, também chamado Teóforo, a Policarpo, bispo da Igreja dos esmirnenses, ou antes àquele que tem a Deus-Pai e ao Senhor Jesus Cristo como o bispo, os melhores votos de felicidades.

 

1.

1 Dando acolhida a teus sentimentos em Deus, me rejubilo exaltado, porque êles estão fundados numa rocha inabalável e porque eu fui julgado digno de contemplar teu rosto puro, gôzo êste que gostaria de perpetuar em Deus. 2 Pela graça de que estás revestido, eu te exorto a acelerar ainda teu passo e a exortar também os outros para que se salvem. Justifica tua posição, empenhando-te todo, física e espiritualmente. Cuida da unidade; nada melhor do que ela. Promove a todos como o Senhor te promove; suporta a todos com amor, como aliás o fazes. 3 Dispõe-te para orações ininterruptas; pede ainda maior inteligência do que já tens; sê vigilante, dono de um espírito sempre alertado. Fala a cada qual no estilo de Deus. Vai levando as enfermidades de todos como atleta consumado. Quanto maior o labor, maior o lucro.

 

2.

1 Se te agradares dos bons discípulos não terás méritos; submete antes com doçura os contaminados. Nem tôda ferida se cura com o mesmo emplastro. Crises violentas acalmam-se com compressas úmidas. 2 Faze-te prudente como serpente em todos os assuntos, sempre simples como a pomba. Por isso é que és carnal e espiritual, para atraíres a teu rosto o que te aparece ante os olhos. As coisas invisíveis pede que te sejam reveladas, para que não te chegue a faltar nada e tenhas tôda graça em abundância. 3 O tempo atual exige tua presença, para chegares até Deus, assim como os pilotos anelam pelos ventos e os açoitados da tempestade pelo pôrto. Sê sóbrio como atleta de Deus. O prêmio é a incorruptibilidade e a vida eterna, do que aliás já te convenceste. Em todos os sentidos, somos teu resgate, eu e minhas cadeias que te são caras.

 

3.

1 Aqueles que parecem dignos de fé e no entanto ensinam o êrro não te abalem. Mantém-te firme como bigorna sob os golpes. É próprio de um grande atleta receber pancadas e vencer. Não tenhas nenhuma dúvida, temos que suportar tudo pela causa de Deus, para que também Êle nos suporte. 2 Torna-te ainda mais zeloso do que és; aprende a conhecer os tempos. Aguarda o que está acima do oportunismo, o atemporal, o invisível que por nossa causa se fêz visível, o impalpável, o impassível que por nós se fêz passível, o que de todos os modos por nós sofreu!

 

4.

1 Viúvas não fiquem desatendidas; depois do Senhor, providencia tu por elas. Nada se faça sem o teu consentimento; nada faças tu sem Deus; o que aliás não fazes. Sê firme. 2 As reuniões sejam freqüentes; procura a todos, um por um. 3 Não trates com sobranceria a escravos e escravas; também êles não se encham de orgulho, mas sirvam com mais dedicação para a glória de Deus, a fim de alcançarem da parte de Deus uma liberdade melhor. Que não se inflamem sabendo que poderiam libertar-se à custa da comunidade, a fim de não acabarem por escravizar-se à cobiça.

 

5.

1 Foge às más artes, prega antes contra elas. Fala às minhas irmãs, que amem o Senhor e se contentem com os maridos na carne e no espírito. Da mesma forma, recomenda aos meus irmãos em nome de Jesus Cristo que amem suas espôsas como o Senhor ama a Igreja. 2 Se alguém é capaz de perseverar na castidade em honra da carne do Senhor, persevere sem orgulho. Caso se orgulhar, está perdido; se ainda fôr tido como mais do que o Bispo, está corrompido. Convém aos homens e às senhoras que casam contraírem a união com o consentimento do bispo, a fim de que o casamento se realize segundo o Senhor e não conforme a paixão. Tudo se faça para honra de Deus.

 

6.

1 Atendei ao bispo para que Deus vos atenda. Ofereço-me como resgate daqueles que se sujeitam ao bispo, aos presbíteros e diáconos. Com êles me seja concedido ter parte em Deus. Labutai uns ao lado dos outros, lutai juntos, correi, sofrei, dormi, acordai unidos, como administradores de Deus, como Seus assessores e servos. 2 Procurai agradar Aquele sob cujo estandarte combateis, de quem igualmente recebeis o sôldo. Que não se encontre desertor entre vós. Vosso batismo há de permanecer como escudo, a fé como capacête, o amor como lança, a paciência como armadura. Vossos fundos de reserva são vossas obras, para receberdes um dia os vencimentos devidos. Sêde pois magnânimos uns com os outros na doçura, como Deus o é convosco. Oxalá possa alegrar-me convosco sempre.

 

7.

1 Uma vez que a Igreja em Antioquia da Síria goza de paz, como me foi participado, graças a vossas orações, também eu me encorajei mais, pela confiança em Deus; contanto que me encontre com Êle pelo sofrimento e assim no dia da ressurreição possa ser contado como vosso discípulo. 2 Convém, ó Policarpo feliz em Deus, convocar uma reunião agradável a Deus e escolher alguém, tido como especialmente querido e incansável, para poder chamar-se estafeta de Deus; encarregar pois a um tal de viajar para a Síria e aí celebrar vossa caridade infatigável para a glória de Deus. 3 Um cristão não tem poder sôbre si mesmo, mas está à disposição de Deus. Esta obra é de Deus e vossa, caso a leveis ao fim. Confio na graça, que estejais prontos para uma obra boa que convém a Deus. Conhecendo vosso zêlo pela verdade, acabei por exortar-vos com essas poucas linhas.

 

8.

1 Uma vez que não pude escrever a tôdas as Igrejas, por ter que partir apressadamente de Trôade para Nápoles, como manda a vontade de Deus, escreverás às Igrejas mais do Oriente, pois que possuis o espírito de Deus, a fim de que elas também façam o mesmo: umas, as que podem, enviando mensageiros, as outras por sua vez cartas através de enviados teus. Assim sereis enaltecidos por uma obra imperecível, como bem o mereces. 2 Saudações a todos nominalmente, também à viúva de Epítropos com tôda a família e filhos. Saudações a Átalo meu amigo; saudações àquele que fôr julgado digno de viajar à Síria. A graça há de estar sempre com êle e com Policarpo que o envia. 3 Faço votos que passeis bem para sempre em nosso Deus Jesus Cristo, no qual haveis de permanecer na união com Deus e o bispo. Saudações a Alceu, que me é tão caro. Passar bem no Senhor.

Crédito da Matéria das Cartas: Cristianismo


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